domingo, 8 de fevereiro de 2009

Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

de Fernando Pessoa

A perda do eu

A perda do eu
...o esquecimento. Esse é o grande problema privado do homem: a morte como perda do eu. Mas o que é esse eu? É o somatório de tudo daquilo que lembramos. Assim, o que nos apavora na morte não é a perda do futuro, e sim a perda do passado. O esquecimento é uma forma de morte que está sempre presente na vida.
(De Milan Kundera a Philip Roth em entrevista publicada no livro “Entre nós“)