Hélio Costa
Dia desses - um sábado ensolarado - saio de casa e vou dar umas voltas pelo centro comercial do Alto Maracanã. Muita gente fez o mesmo. O movimento é intenso.
Uma antiga loja da região está inaugurando suas novas instalações em um novo prédio: faixas, cartazes e muita gente...
Entro. Compradores e curiosos acotovelam-se nos corredores. Mocinhas delicadas distribuem graciosamente, doces e balas. O dono da loja, gentilmente, oferece também pequenas doses de um delicioso vinho - produto da região - servidas em copinhos de plástico descartáveis.
Em meio a papéis picados, cartazes coloridos e muita euforia, crianças, mulheres e jovens reviram as bancas enfileiradas, perdidos no colorido das estampas de peças bem modeladas... uma verdadeira festa!
Pouco mais abaixo, em uma esquina movimentada, caixas de som com volume estridente, chamam a atenção de quem passa, para o "Caminhão do Edredom" com ofertas fantásticas. Imperdível - anunciam.
Muitos veículos disputam as poucas vagas nos estacionamentos, agora reduzidas com a duplicação da Estrada da Ribeira.
Lentamente, caminho despreocupado pela rua cheia de gente. Observo com atenção cada pedaço de calçada, cada árvore, cada prédio...
Repentinamente sinto uma onda nostálgica bater com força em meu peito. Tenho a nítida sensação de que ela abre uma brecha e penetra com força em meu íntimo, indo agasalhar-se em um cantinho qualquer de minha alma, agora já um pouco melancólica. Um sentimento de amargura, tristeza e saudade, aos poucos vai me transportando para um passado não muito distante... nas asas do vento - com diria o poeta - viajo no túnel do tempo...
À semelhança de antigos filmes, há muito tempo assistidos, pedaços de cenas embotadas pelo tempo vão desfilando na memória: cabras pastando tranquilamente no terreno baldio, onde hoje se ergue o bonito prédio do Restaurante Popular; os saibros e as pedras soltas que dificultam a caminhada na íngreme subida da Rua Roberto Lamback Falavinha, em frente ao extinto Supermercado Roberto; árvores atrás do mercado, com ares de mata virgem, lançando uma sombra gigante no barranco desmoronado; o ronco dos motores da pequena serraria que funcionava atrás da, também extinta, Loja Santos, que cedeu lugar à importante Loja Milleniun, que constantemente surpreende com suas campanhas magistrais e ofertas arrasadoras; a "Farmácia do Geraldo", próximo ao Banco Bamerindus; a casa do carroceiro que vendia o leite tirado das vacas que mantinha em um amplo terreno atrás de sua residência, onde hoje está o prédio das Lojas CEM; depois... muito depois, veio o cartório, vieram outras casas, outros prédios, e tudo, rapidamente foi se transformando...
Uma rajada de vento seco chicoteia minha face. Como se despertando de um sono profundo, retorno ao presente. Estou em frente ao Colégio do Fátima. O semáforo me avisa que o sinal está verde e eu posso prosseguir na caminhada.
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