domingo, 23 de dezembro de 2007

O ESPANTALHO


Por: Hélio Costa

Era uma vez um espantalho... espantalho feio, desses que agente vê nas plantações para afugentar os pássaros. Todos os dias, quando ia para a escola eu o via. Sem saber exatamente o porquê, eu parava e ficava olhando e olhando pra ele... lembro que em minha mente de criança eu pensava: pobre espantalho... sempre no mesmo lugar, solitário, calado, silencioso... será que ele tinha amigos? Namorada? Irmãos... o meu pensamento de criança inocente voava longe, fervilhando em mil indagações...

Cresci. Fiquei moço... adulto... envelheci! Penso que a vida também cresceu ou decresceu? Não sei... v erdade é que tudo mudou. Eu mudei. A vida mudou. Tudo!

Hoje, andando pelas ruas da vida, parado nas esquinas do mundo, observando a face macilenta de pessoas agitadas e inquietas, que, em desespero, correm freneticamente na luta insana pela sobrevivência e, às vezes pela ganância; volto no tempo e a figura do velho espantalho me vem à mente: imóvel... solitário... sem amigos, sem namorada, sem irmãos... não sei porque, paradoxalmente, uma estranha comparação começa a se formar em meu pensamento: as pessoas de hoje, no mundo de hoje, com seu rítmo alucinante e desenfreado, assemelham-se ao velho espantalho do meu passado. Não na aparência... não na imobilidade; mas na solidão, na finalidade: como aquele, também vivem solitárias, afugentando os pássaros da paz... do silêncio... da vida!

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